sábado, 10 de abril de 2010

Bike Fit: Ajustando sua bicicleta ao seu corpo


O assunto gera muita discussão, muitas teorias e vários programas de computador que prometem resolver o problema num clic. Para te ajudar a começar a entender esse imbróglio, trazemos uma maneira de abordar o tema baseado na experiência de Peter White, dois programas demos de bike fiting e mais um serviço online para você ajustar sua bicicleta ao seu corpo.

Antes de usar qualquer programa de computador ou tirar alguma medida do seu corpo, o ciclista tem que ter uma idéia clara de que tipo de pedal quer fazer na vida. Não é saber que tipo de bike quer ter, mas que uso pretende fazer dela. Você pode fazer cicloturismo com uma mountain bike ou com uma bike de estrada. Para cada uso, um bike fit diferente é necessário.

Ajustar a bike consiste em definir a posição do seu corpo junto a ela. Para competir, o corpo fica projetado mais a frete, posição esta que fica insuportável para quem vai fazer cicloturismo. Portanto, definir o que você quer fazer em cima da bike é o primeiro item do bike fit. Definido isso, é trabalhar em três pontos do seu corpo que entram em contato com a bicicleta: suas mãos, sua bunda e os seus pés. Olhando pelo lado da bicicleta, bike fit é definir a posição do selim, o posicionamento do guidão e o tamanho do pé de vela. O produto final é o quadro que vai reunir todas as medidas encontradas depois da definição do seu posicionamento.

Comprimento do Pé de Vela

Pouca gente que faz ciclismo não competitivo se preocupa com o comprimento do pé de vela. Este comprimento define o diâmetro do circulo do pedal. Quanto maior este movimento, maior será a flexão dos joelhos e dos músculos da coxa. O esforço muscular necessário para o movimento estando em pé é bem diferente de quando você esta com a perna flexionada, Basta fazer um teste: estando agachado suba 10 centímetros e perceba seu esforço. Agora estando em pé, desça 10 centímetros e sinta a diferença para os mesmos 10 cm. Portanto, acertar a flexão certa da coxa e joelhos é conseguir tirar o máximo de potência das suas pernas e transferi-la para o movimento da bike. A questão aqui é achar a flexão ideal da perna ou o ângulo do joelho para que a perna trabalhe na sua máxima potência por todo o movimento do pedal.

Segundo Peter Jon White, que tem um brilhante artigo sobre bike fit e que me baseei para fazer este, o ideal era termos um pé de vela regulável para que cada um ajustasse conforme precise. Mas como isso ainda não apareceu no mercado e ficar comprando diferentes tamanhos de pé de vela é mais inviável ainda, ele sugere uma medida que parece controversa, mas segundo ele, serviu bem a seus clientes até hoje. Meça a perna partindo do chão, estando descalço, até o topo do fêmur e usar 18,5% deste valor como o comprimento do pé de vela. Para achar o topo do fêmur, que começa uns 25 cm abaixo da última costela, basta elevar um pouco o joelho e ele se move para trás aparecendo ao lado do quadril, facilitando assim, posicionar a fita métrica.

Esta técnica ignora algumas particularidades de pessoa para pessoa, como coxas mais ou menos longas entre outras coisas. Mas dá um número que te ajuda a comprar o primeiro pé de vela para você testar e sentir se corresponde ao seu corpo.

Inclinação do selim

O selim é o último a ser lembrado na hora de comprar uma bike, mas é o primeiro a ser notado caso ele não esteja justo ao seu traseiro. Depois do primeiro dia pedalando a bike nova, você sente que nem tudo são flores. Para o segundo dia, já vem a grande idéia de inclinar o bico do selim para baixo. A dor embaixo fica um pouco amenizada, isso se você conseguir se manter sentado na bicicleta, mas depois desse segundo dia seus ombros mostram que ficar “empurrado” conta o guidão também tem seu preço.

Não adianta evitar, você tem que conseguir um selim que, posicionado na horizontal, seja confortável. A sua pélvis deve estar apoiada confortavelmente sem que você precise dos braços para suportar o corpo. Para mulheres o selim deve ser um pouco mais largo, pois a pélvis feminina é mais larga que a masculina. A maioria dos selins hoje em dia, tem um furo para aliviar a pressão no osso do púbis, assim você pode manter o selim nivelado. Quanto mais nivelado estiver o selim, mais fácil será achar a posição dos braços.

Altura do selim

Uma vez determinado o comprimento do pé de vela, seja por que método você tenha usado, o selim deve ser posicionado na altura nominal. Não é possível determinar a altura do selim somente pela medida da perna do ciclista. Enquanto alguns pedalam com o pé na horizontal, outros podem pedalar com o calcanhar mais abaixo do pedal. Para iniciantes, ajusta-se o selim para que o quadril fique perpendicular ao canote quando um pé esteja na posição mais baixa do pedal. Em outras palavras, o quadril não pode rebolar enquanto você pedala. Isto resultará na perna com uma pequena flexão dos joelhos quando você esta com eles alinhado ao eixo do pé de vela.

A posição do selim

O posicionamento do selim é um dos principais itens do bike fit, senão o maior. Acertar a distância do selim em relação ao eixo do pedal tem mais a ver com o tipo de pedalada que você pretende fazer. O cano que suporta todo seu peso sai do eixo com um ângulo que no fim definirá a que distância que você ficará dos pedais. Esta distância determina o balanço entre você e a bicicleta e define a confortabilidade e a eficiência das suas pedaladas.

Para entender melhor o que é o balanceamento no quadro da bicicleta, faça o seguinte. Fique frente a um espelho e vire-se de lado. Observe que ficando ereto seus pés, quadril e mãos ficam quase que alinhados. Agora dobre o tronco para frente um pouco e veja que para você não cair, seu quadril se deslocou um pouco para trás em relação ao eixo inicial dado pelos pés. Isso é o balanço que te mantém equilibrado.

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O tronco fica voltado para frente por dois motivos: proporcionar potência nas pernas e aerodinâmica. Com o tronco ereto, você não conseguirá usar os músculos dos glúteos. E estando longe do guidão fica mais difícil puxa-lo para ajudar na tração. Isso sem falar que reto sobre o selim, você fará mais o efeito de uma vela sendo inflada pelo vento. Com isso tudo, quanto mais potência e velocidade você desejar, mais baixo terá que estar seu tronco em direção ao guidão.

Claro que quanto mais horizontal estiver o tronco, mais desconfortável é a pedalada. Por isso que essa posição é usada somente por corredores. Para quem só quer fazer turismo, o tronco apenas inclinado ou na vertical é o preferido.

Para começar a acertar a posição do selim, coloque-o mais a frete possível para que você consiga tirar as mãos do guidão e manter o tronco no lugar sem esforço extra. Você não pode ter a sensação de que vai cair para frente. Se não fizer muita diferença aos músculos das suas costas essa posição, você estará suportando o peso do seu corpo no selim, sem usar os braços. Se o uso dos braços não for dispensável, é sinal de que os seus ombros vão reclamar depois de uma longa pedalada. Essa é a posição inicial para o ajuste do selim, lembre-se de que o bike fit como um todo é um jogo de objetivos. Você poderá assumir esforços extras para melhorar o rendimento ou, por outro lado, ajustar a bike para um super-conforto para uma volta ao mundo.

Basicamente para um super-rendimento é melhor estar avançado na bike e para conforto é melhor estar mais para trás. Veja os corredores ao subir uma montanha, estando em pé ou sentado na bike, os corpos estão todos projetados para frente. Por outro lado, cicloturistas de volta ao mundo, estão preferindo bicicletas reclinadas, onde todo o corpo fica atrás do pé de vela. Esses são exemplos extremos. Para quem quer viajar e pegar trilhas, um meio termo é o foco. Mas mesmo nesse meio termo, um ajuste de um a três centímetros na posição do selim pode afetar bem sua relação conforto/rendimento. E esses ajuste você consegue observando o ângulo do cano do canote que vai levar o selim para trás e no tipo de canote que pode ser do tipo L invertido que ajuda a posicionar o selim fora do centro do cano colocando-o mais para trás.

Fazendo um parêntese, para entender melhor essa relação de esforço versus rendimento, veja o filme O Escocês Voador, onde Graham Obree tentou uma nova posição sobre a bike para melhorar o rendimento.

O joelho não teria que estar alinhado com o eixo do pé de vela?

Esse é uma diretriz colocada por vários sistemas de bike bit. No entanto há opiniões de que não dá para colocar no mesmo saco dois ciclistas que tem a mesma altura, mas um tem o fêmur uma polegada mais longo que o outro. Neste caso a posição do selim vai ser diferente de um para outro e provavelmente um deles não vai conseguir rodar o joelho no mesmo eixo do movimento central. O que importa é o balanço geral de pesos. Em outro artigo sobre posicionamento do selim, publicado no OP, abordamos mais a fundo esta questão do posicionamento.

Posição do guidão

Assim como o selim, o guidão segue praticamente os mesmos princípios, quanto mais à frente, mais potência você conseguirá extrair das suas pernas. E quanto mais baixo, mais aerodinâmico fica o conjunto. No sentido oposto, quanto mais perto do seu corpo mais você poderá apreciar a paisagem.

De maneira geral, corredores posicionam o guidão duas a três polegadas abaixo da altura do selim, turistas deixam no mesmo nível e mountain bikers o colocam duas polegadas abaixo. Em todos os casos, o ajuste certo do guidão deverá vir depois de vários testes. O melhor a fazer é usar em diferentes posições para achar a mais correta, mesmo que isso leve tempo.

Metodologia e programas de computador

Até agora não falamos quase em medidas de corpo. Acontece que é muito fácil medir o tamanho das pernas e colocar os dados num programa de computador e obter o tamanho do quadro. No entanto, os números que saem dos cálculos devem ser interpretados de maneira correta. É como mapa astral, hoje na internet é muito fácil ter seu mapa pronto, mas para ter a exata dimensão do seu perfil uma astróloga ainda deve ser consultada.

Com o bike fit acontece a mesma coisa, depois de ter suas medidas, algumas lojas têm um kit onde sua bike ideal é reproduzida e você faz uma prova para que ajustes finais sejam feitos. Só então seu quadro é produzido. Para quem não pretende gastar tanto com um ajuste tão fino e quer somente comprar o quadro certo, essas dicas devem ajudar numa busca mais refinada.

Um exemplo, no site que damos abaixo, você coloca suas medidas e, em segundos, você tem sua ficha. Mas fique atento que se você faz turismo usando uma mountain bike terá que usar as medidas de touring e não demontain. Sempre olhe para o uso que pretende dar a bicicleta e não o modelo que pretende usar.

Em todos os casos, essas dicas são para você começar sua busca e não para finalizar suas decisões. Encare a bicicleta como uma roupa, algumas podem vir no tamanho certo, outras precisam de ajustes e mesmo as de marcas famosas podem não cair bem em você.

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Programas

Abaixo você pode fazer o download de dois programas demo. O Softvelo é um programa italiano e um dos mais completos que consegui achar. Além de medidas, ele te ajuda a acompanhar os treinos e revisões periódicas do atleta. É um programa para quem quer levar a sério o treino em ciclismo. Já o Accufit para na concepção do desenho da bicicleta. Agora para quem quer apenas uma referência, o link abaixo leva a um serviço online onde você coloca três medidas e tem o set de medidas do quaro indicado para cada uso. Lembrem-se, esses dados são sugestões. Para um bike fiting realmente refinado, você deve contar com ajuda profissional. Veja o exemplo de Lance Armstrong que faz um bike fit anual e, ainda, dentro de um túnel de vento para ter o melhor ajuste possível.

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