segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Estilo de vida: andar de bicicleta se mostra uma opção viável

Trocar o conforto do carro ou a facilidade do ônibus para pedalar por longos trajetos pode ser uma solução saudável, econômica e inteligente porém cuidados devem ser tomados


Trocar o conforto do carro ou a facilidade do ônibus para pedalar por longos trajetos pode ser uma solução saudável, econômica e inteligente. Dados de 2010 do Departamento de Trânsito do Estado do Rio de Janeiro (Detran-RJ) apontam que Niterói possui uma frota com mais de 242.400 veículos, incluindo motos, carros e ônibus, chegando à média de um carro para cada dois habitantes.
O trânsito caótico da cidade é motivo de ressalva para o professor de engenharia de trânsito da Universidade Federal Fluminense, Walber Paschoal.
“A situação do trânsito de Niterói demonstra que faltou um investimento do setor público que coincidisse com o crescimento da população. Está na hora do governo investir em transporte de massa ou alternativo”, alerta Walber.
Em Niterói, já é possível perceber quem optou por uma alternativa no trânsito fazendo uso diário de bicicletas para locomover-se entre o trabalho e a casa, além de outras atividades. Mais recentemente, surgiu na cidade o projeto Bike Anjo, que conta com novos voluntários espalhados entre Rio e Niterói e funciona nos mesmos moldes da pioneira paulistana, em funcionamento desde dezembro de 2010. A ideia é reunir ciclistas experientes e apaixonados pelo seu meio de transporte dispostos a ajudar pessoas que desejam aprender a andar de bicicleta na cidade correndo menos riscos. Atualmente, o projeto está presente em 26 cidades brasileiras, como Manaus e Belo Horizonte, e já atendeu milhares de ciclistas. Em Niterói, o Bike Anjo encontrou adeptos como o analista de sistemas Robson Combat, 42, que já pedala há oito anos no trajeto entre Niterói e Botafogo e tornou-se voluntário há cinco meses.
“Queremos desmistificar a ideia de que é perigoso andar no trânsito ao lado dos carros. Quanto mais se utiliza a bicicleta, mais seguro torna-se para o ciclista, assim como ele fica mais seguro de si mesmo”, explica Robson.
Apostando na troca de experiências, o Bike Anjo funciona de forma gratuita e voluntária, com ciclistas experientes à disposição para ajudar iniciantes. Através de um cadastro realizado no site, o ciclista será atendido por um dos “anjos” que estiverem próximos a quem solicita ajuda. No programa oferecido pelo grupo, pode-se pedir uma assistência para escolher entre os melhores trajetos, solicitar a companhia para as primeiras pedaladas, além de se aprender sobre a manutenção básica da bike e as medidas de segurança no trânsito.
Robson atravessa a Baía de Guanabara de barca com sua bicicleta dobrável. Assim como ele, o administrador Vinícius Ribeiro, 27, faz o trajeto entre Icaraí e o Centro do Rio de bicicleta, com o auxílio das Barcas S/A, há um ano. 
“Comprei uma bicicleta dobrável que guardo com facilidade embaixo da minha mesa de trabalho. Facilitou ainda mais a minha opção de ir até o Rio pedalando”, explica. Apesar da opção, nem tudo são flores nas relações com a concessionária.
“Eles sempre alegam que o espaço de uma bicicleta inteira ocupa o lugar de duas pessoas e cobram uma tarifa por isso”, conta Robson, que é confirmado pelo estudante de psicologia Daniel Maribondo, 27, outro voluntário do projeto, que utiliza as Barcas nos fins de semana para visitar os familiares na cidade.
“Algumas pessoas olham desconfiadas ao me ver entrando com a bicicleta inteira nas Barcas, mas venho tranquilamente para cá desta forma”, lembra Daniel.
Sobre a reclamação do analista de sistemas, a Barcas S/A informa em nota que “acredita na importância de incentivar o uso do transporte alternativo e por isso realiza o serviço gratuitamente em algumas de suas linhas operadas. No trajeto entre Rio-Niterói não há cobrança de tarifa nos fins de semana e feriados. Entretanto, a concessionária estipula uma tarifa para dias úteis, pelo fato de uma bicicleta ocupar o espaço de duas pessoas na embarcação, além de aumentar o tempo de embarque e desembarque, principalmente, nos horários de pico”.
A Barcas S/A salienta ainda que o transporte de bicicletas dobráveis é gratuito todos os dias, em todas as linhas, mas que a cobrança das tarifas de bicicletas inteiras “é efetuada com base na deliberação 84/2006 da agência reguladora Agetransp, que em 29 de novembro de 2006 homologou a tabela de preços na qual insere a bicicleta na categoria carga/bagagem”.
O tempo de atuação de cada “anjo” dependerá do aluno. Após a solicitação, a pessoa recebe uma série de textos para ler antes do encontro com o voluntário, sobre regras de segurança, e o Código Nacional de Trânsito. No encontro com o bike anjo são tiradas dúvidas e é realizado um passeio para avaliar a conduta do ciclista que está pedindo ajuda. Nesta hora, atitudes no trânsito e o percurso são vistos com atenção pelos voluntários, que ao fim do encontro aconselharão os novos ciclistas sobre sua opção.
“Muitas das coisas que eu aprendi no trânsito eu passo para os candidatos, pois quando o ciclista está no trânsito não é um ‘intruso’. Faço-os compreender que todo mundo é capaz de inserir a bike em seu dia a dia”, resume Robson.
Foi nas adversidades do trânsito que a turismóloga Inglid Santana, 33, sentiu dificuldades quando fez a opção de usar a bicicleta como meio de transporte. Acostumada a realizar grandes trajetos pedalando apenas por hobby, Inglid aderiu à via “urbana” em 2006. Como toda ciclista preocupada com segurança, Inglid faz uma sugestão aos motoristas de carro e ônibus.
“Acho que pelo menos uma vez por semana motoristas poderiam usar a bicicleta no trânsito, assim haveria mais empatia pelos ciclistas”, defende.
Segurança
Além da vontade, é a questão com a segurança de todos os envolvidos no trânsito que mais preocupa quem está pedalando. Para Robson, saber se comunicar através de gestos ajuda o ciclista.
“No começo, eu fazia rotas na contramão ou não sinalizava corretamente para os motoristas o que eu desejava fazer, mas com o tempo você aprende”, lembra o analista de sistemas. Assim como ele, Inglid destaca o constante estado de atenção em que o ciclista precisa estar enquanto pedala no trânsito.
“O mais importante é que o ciclista, além de cuidar dele mesmo, precisa passar segurança e confiança para quem está no carro. É preciso fazer sinal, avisar que vai passar. Assim, nem você nem o motorista atrapalham o fluxo”, salienta Inglid.
Além dos benefícios como burlar o trânsito, Daniel diz que sua relação com a cidade mudou.
“Foi positivo para mim na questão física, na minha relação com a cidade e com o espaço público. Sempre que posso, desmistifico o trânsito para algum conhecido e apoio quem troca o carro ou o ônibus pela bike”, conta entusiasmado o estudante.
A angústia de ficar preso no trânsito sem poder aproveitar o tempo foi um dos motivos que levou Vinícius a realizar o trajeto de bicicleta.
“Faço em dez minutos um percurso que faria em, no mínimo, 30 minutos. De tão empolgado, ensinei até a minha namorada a pedalar”, conta Vinícius.
Mesmo com os ciclistas ganhando as ruas, o professor de engenharia de trânsito Walber Paschoal faz ressalvas sobre as condições que esses ciclistas encontram para trafegar na cidade.
“Podemos ver as pessoas pedalando, mas ainda não contam com as condições ideais de segurança. Falta um asfalto adequado, nivelamento de calçadas e sinalizações adequadas”, critica o professor da UFF.
Niterói possui o primeiro estatuto
Em maio deste ano, Niterói foi a primeira cidade do Brasil a criar um estatuto exclusivo para ciclistas. Intitulado Estatuto da Bicicleta, o texto foi um projeto de lei do então vereador Felipe Peixoto, que utilizava a bicicleta para ir até seu gabinete, e aprovado na Câmara dos Vereadores com o objetivo de estimular a utilização segura das bikes como meio de transporte da população.
“Apesar das críticas a essa iniciativa, considero as rotas cicláveis uma proposta viável dentro do conceito da sustentabilidade. Ao contrário do que muitos estão falando, elas não são ciclovias, são pistas de rolamento destinadas ao uso compartilhado entre bicicletas e carros”, esclarece o atual secretário estadual de Desenvolvimento Regional.
Com a aprovação do Estatuto, a Prefeitura de Niterói, através da Niterói, Transporte e Trânsito (Nittrans), tem como obrigação implementar rotas ciclísticas, estacionamentos apropriados e disponibilizar o serviço de aluguel de bicicletas públicas, além de sinalização correta para garantir aos ciclistas o direito de circulação nas vias públicas, conforme determina o Código de Trânsito Brasileiro.
No intuito de celebrar a criação do Estatuto, a Nittrans preparou uma cartilha que será lançada durante a Semana Nacional de Trânsito, de 18 a 24 de setembro. Nelas, noções de segurança no trânsito e um manual de como usar as novas faixas destinadas aos usuários de bicicleta.
“Um dos pontos mais importantes da cartilha é a indicação da sinalização, que precisa ser respeitada. Ainda este ano pretendemos colocar as ciclofaixas e as rotas cicláveis até os bairros do Ingá e Icaraí”, destaca a diretora de planejamento da Nittrans, Elisabeth Grieco.
Diferença
Ciclofaixa – A marcação da ciclofaixa ao longo da via delimita a parte da pista de rolamento destinada à circulação exclusiva de bicicletas. A mesma é demarcada com as cores branca nas bordas e vermelha para contraste. A ciclofaixa é utilizada, quando necessário, para separar o fluxo de veículos automotores de fluxo de bicicletas. A circulação no contrafluxo só será permitida se dotada de ciclofaixa, como rege o artigo 58, parágrafo único, do CTB. Exemplo na Rua São Lourenço, em São Lourenço.
Rota ciclável – Marcação de pista destinada ao uso de bicicleta, compartilhada com veículos automotores, sem uma definição específica de limite de largura de pista, apenas com a demarcação de sentido da via e simbologia destinada ao uso da bicicleta. Nela a bicicleta possui o mesmo direito de circulação que o veículo automotor. Instalada em vias locais de baixa velocidade, como nas Ruas Barão do Amazonas e Marechal Deodoro, ambas no Centro.

FONTE: http://jornal.ofluminense.com.br/editorias/o-flu-revista/guias-de-bicicleta#.TmT9RiO0nvo.twitter

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