O que leva homens e mulheres de negócios a abrir mão de benefícios como carro e vaga na garagem para enfrentar de bicicleta a insegurança no trânsito das cidades brasileiras?
Por Guilherme Felitti
Hugo Penteado está quase pronto para sair para o trabalho. São 7 horas de uma manhã rasgada pelo vento gelado de junho em São Paulo. Penteado apanha um guia de ruas no carro e consulta uma rota, mas não embarca no automóvel. Em vez disso, monta em uma de suas três bicicletas e sai pedalando pelas ruas. Como economista-chefe da área de gestão de recursos do grupo Santander, Penteado tem responsabilidades sobre cerca de R$ 35 bilhões aplicados por clientes. Ele entra no banco antes das 8h. No trânsito de São Paulo, diferentemente do que o senso comum sugere, é a bicicleta que garante sua chegada a tempo.
Penteado faz parte de uma tribo de executivos ciclistas que abrem mão dos carros oferecidos a eles pelas empresas em que trabalham, das vagas privativas e às vezes de motoristas particulares para se arriscar pelas ruas e avenidas das grandes cidades brasileiras. Há um componente de diversão, mas há um quociente de risco. No mês passado, Antonio Bertolucci, presidente do conselho do Grupo Lorenzetti, morreu atropelado por um ônibus quando pedalava em São Paulo. Aos 68 anos, era um ciclista experiente. Tinha 15 bicicletas e há décadas desistira do carro para ir ao trabalho e voltar. Sua morte abalou a comunidade ciclística dentro e fora do mundo corporativo. Mas não mudou seus hábitos.
Quem é fisgado pelo vírus das duas rodas dificilmente se recupera. O próprio Penteado não era um entusiasta do ciclismo até a virada de 2009 para 2010, quando o Santander se mudou para sua sede atual, na Marginal Pinheiros – uma das regiões mais valorizadas (e engarrafadas) de São Paulo. Foi o trânsito pesado, e não a ideologia, que o fez abdicar do carro. “Não consigo me acostumar com engarrafamento. Se pego uma avenida parada, me sinto mal fisicamente”, diz Penteado. Decidido a pedalar até o trabalho, ele teve a ajuda do cicloativista Leandro Valverdes, que traçou a melhor rota, com celular e Google Maps, e o acompanhou nas primeiras idas ao banco.
“Em 99% das vezes, o melhor caminho para a bicicleta não é o do carro”, diz Leandro. Quando sai pedalando de sua casa, na região da avenida Paulista, Penteado despreza as grandes avenidas, preferidas pelos automóveis. Ele corta o Parque do Ibirapuera e pega ruas menos movimentadas, no Jardim Paulista e na Vila Olímpia, nos oito quilômetros até o Santander. As ruas arborizadas do caminho são agradáveis, mas não livres de perigos. Penteado diz que já foi perseguido por um carro na região do Paraíso.
Adaptar trajetos para a bicicleta é essencial para a segurança do ciclista, mas com frequência resulta em caminhos mais longos, dada a falta de infraestrutura das cidades. Marcos Yamamoto, diretor de operações da Cisco no Brasil, mora na Chácara Santo Antônio. Para fazer exames no Hospital Albert Einstein, precisaria apenas cruzar a ponte do Morumbi. As passagens de pedestre ali, porém, têm escadas, o que obriga o executivo a ir até a ponte Cidade Jardim – são oito quilômetros a mais no trajeto em nome da segurança. Yamamoto só se tornou íntimo do pedal quando trocou Brasília por São Paulo.
O que chama de “dificuldade intrínseca com o trânsito paulistano” o fez adotar a bicicleta. Ele se adaptou tão bem que hoje pedala os quatro quilômetros que separam sua casa da Cisco vestindo calça, camisa e sapatos sociais. Ao chegar à empresa, veste o paletó e está pronto para o trabalho. “Pedalo no ritmo de uma caminhada tranquila. Obviamente transpiro um pouco, mas nada que tenha provocado reclamações de colegas.”
Pedalar é perigoso? Menos que a moto, diz Ari Meneghini, presidente do Interactive Advertising Bureau. Ele foi derrubado da sua, há dois anos, por uma motorista que dirigia falando ao celular. Exceto por um corte na palma da mão, saiu ileso. Mas desistiu da moto. “De bicicleta, você tem de andar com mais cuidado e, por isso, presta mais atenção”, diz Meneghini.
Este é um ponto comum entre os executivos ciclistas: não se passeia até o trabalho, se locomove. Distrações, como fones de ouvido com música, são inimigas do ciclista. Até com a contemplação da paisagem convém ter cuidado. Fernando Tibau tem um belo motivo para aproveitar o caminho entre o Leblon, onde mora, e a mineradora em que trabalha como gerente-geral, na Cinelândia, bem no centro do Rio de Janeiro. Grande parte dos 18 quilômetros é feita na ciclovia, à beira-mar. “Mas não ando só a 10 quilômetros por hora quando saio daqui. Quando você não está passeando, a bicicleta é só um meio de transporte”, diz.
A razão para Tibau deixar o carro na garagem tem mais a ver com o exercício que com a mobilidade. Ele é atleta amador, mas, desde o nascimento de seu filho, há quase dois anos, ir e voltar do trabalho se tornou a única forma de treinamento para as provas de que ainda participa. É um caso semelhante ao de Steven Beggs, o fundador da rede de escolas de inglês Seven. Aos 17 anos, Beggs percorreu de bicicleta boa parte dos 2,8 mil quilômetros entre Florianópolis e Santiago do Chile. Hoje, porém, suas pedaladas se restringem ao circuito de casa para o trabalho e do trabalho para casa. Pode ser menos radical, mas, segundo ele, não é menos perigoso. “Não ando colado na guia, mas no meio da faixa”, afirma Beggs. “Se você fica perto da calçada, o carro não respeita a distância mínima de 1,5 metro que o código de trânsito exige.”
Às vezes, nem a experiência acumulada por anos de ciclismo substitui uma boa dose de sorte. Nicole Tomazi, fundadora do escritório de design Oferenda, pedala três vezes por semana para o trabalho e costumava aparecer nos passeios do grupo gaúcho de ciclismo Massa Crítica. No dia 25 de fevereiro, dez de seus colegas foram atropelados por um motorista durante uma pedalada em Porto Alegre. Naquele dia, Nicole não pôde sair de bicicleta. Sua reação sintetiza o sentimento dos ciclistas executivos: “O atropelamento me deixou mais atenta e com mais vontade de pedalar. É um desejo de mudar as coisas”.
NOTA DO BLOG: Como temos poucas políticas públicas voltadas para a mobilidade urbana na minha cidade amada Mossoró-RN, hoje o meu veículo de locomoção entre minha humilde casa até o local do meu trabalho é sempre uma das minhas bicicletas, uma eu a chamo de FLECHA DE PRATA que é uma SPECIALIZED - STUMPJUMPER COMP 2011 e a outra é minha MONARK - PANAMERICANO do ano de 1961 que eu a chamo carinhosamente de RELÍQUIA, o trânsito na minha cidade simplesmente travou, não tem locais específicos suficientes para estacionar nem mesmo uma moto e imagine um carro, esse foi um dos grandes motivos que hoje eu venho todos os dias de casa para o trabalho na minha bike "PEDALANDO E CANTANDO" o hino nacional, muitos dizem que é coisa de "liso" andar de bicicleta eu particularmente não acho, nós apenas procuramos uma qualidade de vida, podemos ser até "liso" sim, mais com saúde, bacana mesmo é ir para o trabalho em uma caminhonete HILUX SW4 2011 carro esse desenvolvido para a lida no trabalho duro com terrenos de difíceis acessos, mais no Brasil ele é usado para mostrar "status" e mostrar o patrimônio para a classe social de hipócritas que pertence, esquecendo a qualidade de vida, então fico eu aqui com minha bike e desejo saúde para os que vão de carro para o trabalho. por Alex Polary.
PATROCINADORES DO BLOG:
Isso é verdade meu amigo Alex Polary, o ciclista e o pedestre não têm vez, nossos governantes nos excluem na hora de projetar a nossa cidade como é o caso da tão falada mobilidade urbana que visa tão somente à melhoria de quem faz uso de automóveis. Essa exclusão é tida como marginalização de uma classe que busca uma melhor qualidade do ambiente e de vida, descongestionando o transito ou mesmo por falta de dinheiro para comprar um carro.
ResponderExcluirÉ fácil encontrar no centro de Mossoró carros ocupando tudo que são espaços limitados para pedestres, cadeirantes e ciclistas. Esse caos transforma cidadãos de bem em hipócritas, preconceituosos que ao entrarem em seus carrões se acham donos da razão.
A meu ver esse desvio de conduta é simplesmente uma doença dessa nossa sociedade capitalista onde a correria diária nos faz cada dia mais individualistas e cegos.
Moisés Halison M. de Almeida
Gestor Ambiental e Ciclista