Após pedalar com regularidade por cinco anos, já tendo um grupo formado e com diversos integrantes resolvi que era o momento de fazer uma viagem de bicicleta que ultrapassasse os 1.000 Km.
Conversei com a esposa e filhos e o apoio foi total. Era tudo que eu queria ouvir.
A cabeça fervilhava de idéias, mas como esse seria um feito inédito no nosso Estado, nada melhor do que homenageá-lo. Lembrei então das aulas de Geografia e da semelhança do mapa do Rio Grande do Norte com um elefante. Recorri também a um livro recém lido de José Saramago relatando a viagem épica do elefante Salomão. Tudo serviu de inspiração.
Definido o local da viagem, chegou o momento de traçar o roteiro. O primeiro desafio foi eliminar os trechos pela beira mar, pois sabia que isso somente iria aumentar o desgaste dos ciclistas, bem como da bicicleta. Fui direto para o GPS e sem muita dificuldade conclui que teria pela frente aproximadamente 1.200 Km, sendo que apenas 20 Km seria em estrada de barro. Perfeito. Elaborei o trajeto levando em conta três critérios na escolha das cidades que serviriam de pernoite: primeiro, a importância da cidade no contexto sócio-econômico da região; segundo, alguma relação afetiva que guardava com a cidade; e terceiro, se entre uma cidade e outra havia uma distância média de 90 Km.
Traçado o roteiro e elaborado um cronograma de viagem. Era chegada a hora de divulgá-la, pois assim iria descobrir se mais algum “maluco” estaria disposto a compartilhar comigo daquela aventura. Joguei a informação na Internet e iniciei a divulgação boca a boca, isso com bastante antecedência. No começo muitas manifestações surgiram, todos entusiasmados com aquele desafio. Registre-se que ninguém chegou para me desencorajar.
Firmei uma data de saída e o dia escolhido foi 06 de janeiro de 2011, às 06h00min, defronte ao Plano 100 da Avenida Ayrton Senna. O dia da semana seria uma quinta-feira e por ser feriado na Capital – Dia de Reis - possibilitaria uma maior participação na saída. O horário foi o comumente utilizado nas nossas pedaladas nos finais de semanas. O local também seguiu esse mesmo padrão.
De início muitas pessoas manifestaram interesse em fazer todo o trajeto, mais com a aproximação do dia da partida esse número foi minguando. O fato é que faltando poucos dias para o início apenas cinco pessoas além de mim confirmaram. Foram elas: Artur Martins, permissionário de transporte escolar, integrante do Rapadura Biker que pedala com frequência na Rota do Sol e na companhia de quem já havia realizado viagens de bike para Florânia e de João Pessoa até Natal; André da Bicicletada, lanterneiro de mão cheia e ciclista que conheci na reunião da ACIRN – Associação de Ciclistas do Rio Grande do Norte, mas de quem somente tinha recebido boas informações; Jadson, também integrante do Rapadura Biker, mecânico de bicicleta e pessoa que eu torcia fizesse parte do grupo, pois sei que é desenrolado no seu ofício; Raimundo Bezerra, professor de Biologia, que também integra o Rapadura Biker e foi um dos seus fundadores, tratando-se de uma pessoa com muita experiência em viagens; e Sérgio Teda, educador físico, uma mistura de Rapadura Biker com Calango Seco, uma pessoa bastante tranquila, que em outras viagens tinha se revelado uma excelente companhia.
Fizemos uma reunião prévia com todos interessdos na viagem e fiquei admirado quando vi mais de vinte pessoas dizendo que participariam do primeiro dia. Ali foi estabelecida uma regra: a saída seria no horário combinado, mesmo que estivesse chovendo. Não deu outra: no dia marcado a chuva começou por volta de 01h00min da madrugada e continuou pelo resto do dia.
Às 06h00min o grupo estava pronto. 24 ciclistas estavam no local, debaixo de forte chuva. No caminho outros vieram se juntar a nós, de forma que contabilizamos 26 ciclistas.
Seguindo o cronograma fomos pela Via Costeira, pois seria uma forma de prestigiar nossa Capital, pedalando pelas lindas paisagens das praias urbanas e ainda de quebra tendo a possibilidade de visualizar os nossos principais cartões postais: o Morro do Careca, o farol de Mãe Luiza, a fortaleza dos Reis Magos, a praia da Redinha e a o Ponte de Todos. A escolha teria sido perfeita se não fosse o fato da Via Costeira continuar sendo um canteiro de obras e um depósito de garrafas quebradas. Eram tantos pregos e cacos de vidros que tivemos seis pneus furados em menos de 10 Km percorridos, o que atrasou a viagem em aproximadamente uma hora.
Conseguimos sair da zona urbana e alcançamos a BR 101, já no Município de Extremoz. Dali até Touros não haveria muita dificuldade pois teríamos o vento ao nosso favor e uma topografia relativamente plana.
Chegamos antes do horário previsto e fomos direto para a casa de Gracinha Gomes, irmã de Júnior Verona, que pedalou conosco nesse primeiro dia. A acolhida foi maravilhosa e chegamos todos bem. O trajeto total foi de 104 Km.
No dia seguinte o nosso objetivo era João Câmara, cidade pólo da região do Mato Grande. A viagem seguiu tranquila e mais uma vez chegamos antes do horário previsto. Foram 60 Km de asfalto. Na cidade fomos acolhidos por Rodrigo, também na casa de Gracinha Gomes.
O terceiro dia chegou e a bússola apontava para Macau, região salineira do Estado. O tempo estava nublado e no meio do trajeto o sol resolveu nos acompanhar. Também vencemos os 104 Km planejados sem nenhum percalço. A cidade não mudou muito e suas salinas continuam sendo o atrativo.
Continuamos nosso trajeto e desta feita tínhamos que alcançar Mossoró. Aqui ciclistas de Macau do Grupo Rodas do Asfalto (Gringo, Jean, Chan, Edinho e Freitas) nos acompanharam durante um trecho Ponderamos muito sobre qual o melhor trajeto a ser seguido e resolvemos seguir por Pendências, evitando assim o trecho de barro entre Macau e Porto do Mangue. A escolha foi correta, pois apesar de mais extenso o percurso foi mais tranquilo e sem nenhum incidente. Registre-se que o pessoal do Ciclismo Mossoró (Alex Polary e Gilvan) nos acompanhou por um período. Chegamos a Porto do Mangue e iniciamos a pedalada na Costa Branca, passando nas Dunas do Rosado, na Ponta do Mel, Redonda e entrada de Areia Branca. Resolvemos então que Mossoró seria o nosso local de hospedagem e após 145 Km de pedaladas chegamos ao nosso objetivo. A cidade é a segunda maior do Estado e vem chamando a atenção por seu vertiginoso crescimento urbano. Podemos constatar isso facilmente pois de longe
vários edifícios são vistos, cena típica de cidades grandes.
Deixamos Mossoró no horário planejado e fomos no rumo do Vale do Apodi. Aqui tivemos a surpresa de receber Nelson Maia, ciclista amigo de Pau dos Ferros que veio se incorporar ao grupo. Pedalamos muito bem e vencemos os 80 Km com certa facilidade. Como chegamos com sobra no horário resolvemos conhecer o Lajedo de Soledade e essa foi uma ótima opção, gerando assim um total de 90 Km pedalados. Ali encontramos registros dos nossos antepassados, que deixaram marcado nas pedras os sinais dos momentos ali vividos. O local é mágico e merece uma visita sempre.
Nosso próximo destino foi a chamada Tromba do Elefante. Saímos de Apodi na companhia de Nelson Maia e Fernando e após 75 Km de boa pedalada chegamos em Pau dos Ferros, a Princesinha do Oeste. A cidade cresceu muito desde minha última visita e constatei que com a chegada em definitivo da BR 226 haverá um incremento no comércio local, pois muitas pessoas deixarão de se deslocar até Mossoró, preferindo Pau dos Ferros que é mais próximo.
Fomos pelo trecho ainda não concluído da BR 226 até Patu. O caminho nos reservou algumas surpresas, pois passamos ao lado da Serra de Martins e encontramos umas subidas significativas. Vencemos todas e admiramos a bela paisagem. Depois de exatos 70 Km chegamos na placa de boas vindas ao Município de Patu. No local fomos visitar o Santuário de Nossa Senhora dos Impossíveis, na Serra do Lima. Ficamos deslumbrados com a paisagem, mas também entristecidos com a sujeira deixada pelos romeiros. É incrível o número de garrafas plásticas espalhados pelo lugar. Ademais, não encontramos lixeiras para que as pessoas acondicionem o lixo.
De Patu atravessamos a Paraíba, passando por Belém do Brejo do Cruz e Brejo do Cruz, a terra do cantor e compositor Zé Ramalho. Entramos no Seridó passando por Jardim de Piranhas e depois de muito sofrimento chegamos em Caicó, a principal cidade da região. Foram 86 Km de asfalto e muito calor. A noite a temperatura da cidade diminui e se torna agradável. Chamou atenção o fato de que as pessoas praticam muita atividade física, principalmente na Ilha de Santana.
Continuamos nossa saga pelo Seridó e rumamos até Acari. O caminho escolhido foi via Jardim do Seridó, pois a rodovia oferece melhores condições de acessibilidade e segurança. Novamente enfrentamos o calor intenso da região e o trajeto de 74 Km foi difícil de superar. A recompensa, no entanto, foi excelente. Ficamos hospedados na casa de Pedro Brito, no Gargalheiras. O local é mágico e bastante acolhedor. Tivemos a oportunidade de conhecer a história do lugar por meio de uma exposição fotográfica. Também foi possibilitado ao grupo participar da abertura de uma colméia de abelhas e conhecer um pouco da vida em coletividade desses animais. Foi um dos momentos simples e gratificantes da viagem.
Deixamos Acari e passamos dentro de Currais Novos, local que nos possibilitou ótimas acolhidas. Atravessamos o núcleo da cidade e iniciamos um dos trechos mais difíceis de toda viagem: a Serra do Doutor contra o vento e com o sol no seu grau máximo. Foram 98 Km de muita canseira, mas vencidos com bastante empenho por todos. Chegamos a Santa Cruz antes das 14h00min, mais uma vez antes do horário previsto.
De Santa Cruz, devidamente abençoados por Santa Rita de Cássia e após admirarmos a maior estátua religiosa do Brasil, seguimos na direção de Passa e Fica. Ingressamos mais ainda na região Agreste do Estado e a vegetação e o clima começaram a mudar. Depois de 64 Km chegamos em Passa e Fica e na entrada da cidade Dona Neide da Pousada Pedra da Boca tinha preparado uma recepção. Vários ciclistas no acompanharam até a pousada, na companhia de um carro de som e fogos de artifícios. Foi uma agradável surpresa. Aqui visualizamos e visitamos a Pedra da Boca, no Parque Estadual de mesmo nome, na cidade de Araruna-PB.
Saímos cedo de Passa e Fica e praticamente atravessamos todo o Agreste Potiguar, deixando para trás Nova Cruz, Montanhas e Pedro Velho. Às 11h30min chegamos novamente na BR 101 e de novo estávamos perto do litoral. Após uma rápida passagem por Canguaretama fomos em busca de Barra de Cunhaú. Nos hospedamos na excelente Pousada do Forte e renovamos as energias para o último dia do trajeto. Hoje pedalamos 83 Km.
Chegou então a última etapa do trajeto. Dali até Natal apenas 60 Km nos separavam. A escolha era seguir pelo Chapadão de Pipa e de lá atravessarmos de balsa de Tibau do Sul até Malembá, onde então pedalamos pelas areias da praia até Barreta. Tudo ocorreu como planejado e a maré baixa permitiu uma pedalada gostosa na beira da praia. Passamos por Barreta, Camurupim, Tabatinga, Búzios, Pirangi, Cotovelo e Pium e exatamente às 12h15min chegamos ao estacionamento do Plano 100 da Avenida Ayrton Senna. Ali foi só festa e emoção: banda de música tocando frevo, foguetório e muitos amigos e parentes. Foi uma recepção digna de um final de pedal.
Após 1.113 Km de estrada a sensação foi de vitória. A bandeira do cicloturismo foi fincada com força e orgulho pelo Grupo Rapadura Biker e demais ciclistas que vieram somar conosco. A nossa passagem em mais de quarenta cidades serviu para divulgar a bicicleta como um meio de transporte viável, benéfico à saúde, não poluente e agregador de valores. Foi muito bom compartilhar com as pessoas informações sobre as cidades e responder a cada pergunta curiosa sobre a emoção de viajar pedalando. Quando cheguei em casa e fui tomar o meu banho tranqüilo já me veio na cabeça a pergunta: qual será a próxima viagem?
fontes: http://rapadurabiker.blogspot.com/ e http://www.ondepedalar.com/viagens_bike/relatos_cicloviagens_bike/591174.html
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