terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Dica da CONSULTORIA VAGNO JESUS: Selim desregulado, sofrimento garantido.



Ciclistas na ciclofaixa de lazer. Foto: Divulgação/Movimento Conviva

Nesse último domingo de sol, eu passava de carro com uma amiga perto de uma ciclofaixa de lazer. O trânsito estava parado na ponte. Minha amiga olhou pro lado e, ao ver as pessoas indo e vindo de bike sem parar nem um segundo, disse: “que inveja desses ciclistas” – ela também pedala. Olhei para o pessoal na ciclofaixa. Famílias inteiras pedalando felizes, refrescadas pelo vento contrário, crianças, idosos, todos aproveitando o domingo ao ar livre. Eu, de dentro do carro, observando alguns e algumas que passavam de bike, respondi que não sentia inveja alguma. “Olha a altura desses selins!”, eu disse. “Um mais baixo que o outro. Essas pessoas vão ter uma baita dor nas pernas nesse domingo. Não sei como aguentam”.

Pedalar com o selim desregulado é um “fenônemo” que se observa não apenas nas ciclofaixas de lazer dominicais e nos parques, onde grande parte dos ciclistas está acostumada a pedalar por lazer durante os fins de semana, e que por isso nem sempre atenta para detalhes fundamentais da dinâmica física da bicicleta e sua relação com nosso corpo a longo prazo. Incontáveis vezes também já vi policiais que fazem rondas de bicicleta pedalando com o selim láááááá embaixo, as pernas se movimentando num constante ângulo de 90 graus, e ainda por cima na subida, o que torna o pedalar ainda mais difícil com o selim baixo. Além deles, vejo com frequência entregadores de padarias, restaurantes e supermercados pedalando todo curvados, os joelhos quase tocando os cotovelos, fazendo um esforço danado pra sair do lugar – e com o agravante do peso da entrega às costas ou no bagageiro da bike. Funcionários da empresa Porto Seguro que prestam serviços e se deslocam pela cidade de bicicleta também são campeões do selim baixo. Para pelo menos uns dois, parados ao farol ao meu lado, eu sugeri que suspendessem um pouco o canote do selim – e que não pedalassem no meio-fio, outro hábito nada saudável e muito menos seguro que alguns costumam ter.

Pedalar é fácil. Difícil é pedalar com selim desregulado

Pedalar com o selim desregulado para nossa altura (seja para mais ou para menos) é doloroso e faz a prática do pedal parecer algo difícil e nada prazerosa. Grande parte das queixas de dores nas pernas, glúteos, costas e mesmo nos braços podem ter a ver com a altura errada do selim.

Baixo demais

Se está baixo demais (e esse é o caso mais comum), forçamos muito alguns poucos músculos, os joelhos e fazemos a pedalada render menos do que poderia. Me parece que muita gente deixa o selim mais baixo para poder alcançar o pé no chão na hora de parar, seja por conforto ou por medo de cair da bicicleta ao ter que desmontar dela rapidamente numa parada qualquer. Seja qual for o motivo, conforto de pôr o pé no chão sem sair da bicicleta ou medo de desmontar para pôr o pé no chão (que pode ser superado com um pouco de treino) não compensam os danos físicos e o desprazer que um selim desregulado causa no corpo da gente.

Alto demais

Quando a altura errada é para mais, a gente pedala rebolando lateralmente, de um lado pro outro, esticando a ponta do pé para alcançar o pedal até o fim da pedalada, forçando demais as panturrilhas e o peito do pé. Incluindo os glúteos que friccionam além da conta o selim e terminam machucados no fim do dia, contabilizamos nessa pedalada três partes do nosso corpo que sofrem.

Sem segredos nem macetes: o “truque” é o conforto

Já ouvi alguns truques e macetes para regular com precisão a altura do selim de forma adequada à nossa altura. Pode ser que funcionem para algumas pessoas, mas para outras não. Pelo menos comigo (e acho que com bastante gente) essas dicas não funcionam 100%. Primeiro porque cada bike tem design e medidas diferentes; depois, os corpos, obviamente, são diferentes em suas medidas, proporcionalidade e na percepção particular de conforto.

Demorei cerca de uma semana até acertar a altura do meu selim. Usei a bicicleta em diferentes situações para saber se aquela altura continuava confortável em todas elas, especialmente nas subidas, que naturalmente exigem mais dos nossos músculos e joelhos. Uma vez descoberta a altura correta, todas as dores localizadas que sentia no corpo se foram.

Medidas básicas

Em vez de truques e macetes, prefiro sugerir duas medidas básicas que servem para qualquer tipo de corpo e bike:

1. Em cada pedalada, a perna deve estar inteira esticada quando o movimento do pedal for de descida. Esticada não quer dizer “estirada”, como no caso em que o selim está tão alto que a pessoa precisa rebolar lateralmente e tocar o pedal com a ponta do pé para dar conta de completar a pedalada. Verifique se sua perna está esticada observando seu joelho na descida do pedal. Se ele continua ainda um pouco dobrado no fim da descida, suba um pouco mais o selim até que a perna toda esteja reta, e que a sola do seu pé toque o pedal inteiramente sem precisar forçar esse toque.

2. Preste atenção no conforto ou desconforto que você sente ao pedalar. Repare nos sinais que seu corpo te dá. É comum que, ao pegar uma bicicleta nova, o corpo se ressinta um pouco até se adaptar. Algumas dores são comuns, como nos músculos das panturrilhas e coxas, nos braços e ombros. Dependendo do condicionamento físico da pessoa e do tipo de bicicleta utilizada, essa adaptação pode levar horas ou dias. Mas uma vez o corpo adaptado à bicicleta, o desconforto passa, e o que fica é só a dor natural que vem do esforço de uma subida mais pesada, por exemplo, de uma pedalada mais duradoura. Se mesmo com o selim regulado corretamente o desconforto não passar de jeito algum, é preciso ver se o problema está em outros componentes da bike e suas medidas. Em boas bicicletarias há sempre algum profissional capaz de avaliar essas medidas em relação ao seu corpo e descobrir onde está o erro.

Conforto mínimo

Seja como for, há sempre um conforto mínimo que deve ser observado logo que se monta em uma bicicleta. Repare na resposta dos joelhos e dos glúteos nos primeiros minutos de pedalada. Eles não devem reclamar demais, queimar, fatigar-se sem motivo aparente. Se você desconfiar que o selim não está regulado para sua altura, desça da bike e ajuste-o – se estiver na Ciclofaixa de Lazer, há mecânicos de plantão que podem ajudá-lo na regulagem. Lembre-se que pedalar é um ato prazeroso, e que só dói ou incomoda quando a bicicleta (especialmente o selim) não está adaptada às peculiaridades do nosso corpo.

FONTE: http://colunas.revistaepocasp.globo.com/nabike/2012/12/04/selim-desregulado-sofrimento-garantido/


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